Nem quando, ao vê-lo, seus enormes olhos brilhavam tão intensamente que faziam ainda menor o rosto miúdo.
Também não a amava pela inteligência. Não que fosse burra, não – definitivamente não. Em muitos momentos era sagaz e até sábia.
Mas quem se daria tanto, confiaria tanto se fosse lúcido e racional?
Pensando bem não a amava por nada que fosse dela – nem o rosto, o corpo, a mente, a alma. Nada.
Ele, egoísta, a amava por um único motivo: por que ela o amava.
E o amava tão plena e profundamente que ele se sentia único, poderoso e total.
Mas por ser amado com tanta delicadeza e liberdade, paradoxalmente, ele sentia-se preso.
Constrangido, escapou antes que ela pudesse amá-lo ainda mais. Já não satisfazia.
Cruel, de longe a viu definhar, esvaindo-se na dor dos não amados.
Enfim, entediado, apenas afastou-se e deixou o tempo passar.
Mas estranhamente sentiu-se vazio e foi tomado de uma imensa dor.
Custou a perceber por que: não via mais seu belo reflexo naqueles olhos tristes.
Ela, enfim, deixara de amá-lo. Assim. Sem alarde, sem lágrimas.
E só naquele instante ele, atônito, deu-se conta de sua
tragédia.
Ele a amava por que ela
o amava.E sem aquele amor ele não era ele. Desaparecia.
Ele simplesmente não existia.
Lucia D'Acri