sábado, 20 de novembro de 2010

Visitante

Ele chegou de repente.
Sentou-se no sofá e me sorriu, cínico.
Na cozinha, invadiu a geladeira.
E depois deitou-se na minha cama.

Me agarra pelos cabelos,
Beija minha boca com fome
Alisa meu corpo,
sem nenhum escrúpulo.

E lambe minhas orelhas,
e sussura nos meus ouvidos.
E não me diz nada - não é preciso.
Sua presença é plena.

Abro a porta e o convido a sair,
mas com um olhar cruel
ele se nega e me envolve.
Silêncio - ele é todo e só.
Só silêncio.
Lucia  D'Acri

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sempre há alguém

Todo dia antes de levantar, separo cinco minutos.
Cinco minutos em que eu penso em alguém, alguém que um dia passou pela minha vida e agradeço.

Agradeço por uma gentileza, por um sorriso, por um carinho.
E cada dia descubro mais pessoas, tantas gentileza, sorrisos e carinhos.

Algumas pessoas passaram tão rapidamente que quase não me dei conta.
Outras estão grudadas na minha pele para sempre.
Há aquelas que perfumaram meu caminho e outras que me foram atalho.
Todas, de um jeito ou outro, me fizeram feliz em algum momento.

Todas me ajudaram, até mesmo sem o saber.
E não há distinção aqui. Penso naqueles que, com pequenos gestos ou atos, foram meus amigos.
E também em outros que, durante toda a vida, estiveram comigo.
Poucos, é verdade, ainda permanecem no meu dia a dia, pelas circunstâncias da vida ou por que, simplesmente, nos perdemos.
Mesmo lamentando, agora entendo que é assim - não podemos ter todas as pessoas que um dia entraram na nossa rota de viver.

E são tantas! Falo aqui de coisas imensas e pequenos atos como sujeito que um dia não cobrou o lanche por que sabia que eu não tinha como pagar e só assim eu consegui fazer uma prova importante. Do outro que me indicou para uma vaga que sequer sabia seria o meu melhor emprego. Da amiga que me resgatou em uma noite de ano novo e me fez ver que o futuro ainda estava por vir. Falo do senhor que sequer sabia meu nome e me ajudou a resolver um grande problema.

Falo do porteiro solícito, do sapateiro honesto, do cartão de natal agradecido, do elogio inesperado. E falo também de quem me colocou no colo, segurou minhas barras e de quem me ligou no meio da madrugada por que sabia que eu, insone, amargava de tristeza e solidão.

E então eu vejo que cinco minutos não são bastantes. Eu precisaria de uma outra vida para agradecer a todos. E me dou conta de que é hora de levantar e me levanto feliz.